[FOSPA / 4 de junio 2022]
Nós, movimentos sociais, povos indígenas, mulheres, homens e jovens amazônicos, andinos e afrodescendentes do Peru, presentes no FOSPA PERU a caminho do X FOSPA em Belém do Pará, Brasil, expressamos nossa firme decisão de articular esforços e lutas em defesa dos territórios da Amazônia e da vida, contra o modelo econômico neoliberal patriarcal, colonial, racista que viola todos os nossos direitos individuais e coletivos, contra a corrupção e contra o fundamentalismo.
Esse modelo econômico imposto não reconhece as economias solidárias e visões de mundo dos povos, aponta para a desapropriação da terra e do território dos povos indígenas, prevalecendo a violência contra as mulheres, o avanço devastador das mudanças climáticas, a criminalização do protesto, a crise política e a corrupção que abala nosso país e todo o continente.
Da mesma forma, a corrupção institucionalizada no sistema, que corrompe as forças políticas e econômicas que governam nosso país, impede qualquer progresso em termos de justiça, no exercício dos direitos humanos e bloqueia os processos de convivência entre nossos povos.
Reconhecemos uma aliança de forças conservadoras e grupos fundamentalistas políticos e religiosos que ocupam os espaços de poder com uma visão exclusiva, inequívoca e hegemônica da diversidade de mulheres e homens de nossos povos e que ignora seus processos de crescimento coletivo em prol do bem viver e vida plena.
Contra isso, em defesa da Amazônia, a vida e os direitos humanos individuais e coletivos
DECLARAMOS:
• Nossa rejeição ao modelo econômico neoliberal extrativista, racista, patriarcal e colonial que promove a crise climática, viola direitos coletivos e individuais, direitos das mulheres, nossas espiritualidades e visões de mundo.
• Nossa rejeição aos fundamentalismos políticos, econômicos e religiosos que não reconhecem outras formas de entender o mundo e a corrupção que está enraizada e instalada em todos os níveis de governo.
• Nosso repúdio à desapropriação sistemática, política, econômica e cultural dos territórios indígenas e à crise alimentar que o modelo neoliberal impõe por meio do Estado, que ameaça a vida das comunidades e povos indígenas.
• Nossa rejeição de uma visão mercantilista da vida, especialmente nos corpos das mulheres, que sofrem múltiplas formas de violência e que as impedem de viver em paz e liberdade.
• Somos a socioevolução eco-solidária diante da crise climática e da ameaça a todos os seres vivos devido ao consumismo capitalista e à depredação da natureza.
NOSSOS COMPROMISSOS:
• Continuar lutando por alternativas viáveis locais, nacionais e internacionais, que busquem a conscientização ambiental e a proteção dos bens da natureza. Seguimos lutando pela mudança de paradigma, nosso melhor patrimônio.
• Questionar a cultura hegemônica predominante que busca impor um estilo de vida baseado no consumismo e na depredação da Amazônia, violando os direitos humanos de homens e mulheres dos povos amazônicos, andinos e afrodescendentes.
• Recuperar os saberes ancestrais e as formas de organização de nossos povos para a gestão da água, a proteção de sua nascente: nossos rios, limpos e livres, e a governança territorial com a participação preponderante dos povos indígenas e afro-peruanos, verdadeiros defensores dos territórios e da Amazônia.
• Construir e fortalecer processos de reconhecimento de territórios integrais, autogoverno e autonomia como expressão do nosso direito à autodeterminação dos povos. Exigimos o reconhecimento e o respeito ao direito ao território integral e ao autogoverno que as nações indígenas amazônicas vêm construindo.
• Lutar pela mudança, o que implica desaprender o aprendido e resgatar valores e saberes ancestrais dos povos indígenas e afrodescendentes, adotando do mundo global o que nos beneficia e exigindo um Estado que garanta segurança e soberania alimentar, com soluções sustentáveis como a produção agroecológica.
• Reverter os efeitos das mudanças climáticas, caminhando para um novo paradigma que reconheça e valorize todas as visões de mundo e formas de entender o mundo, de se relacionar com a natureza, pautado no cuidado e respeito como única forma de garantir a sustentabilidade da vida.
• Enfrentar o sistema patriarcal, capitalista e colonial, que exclui e discrimina nossos saberes e culturas, direitos ancestrais e nossas próprias filosofias, que também violam nossos territórios e corpos.
• Continuar apostando com as mulheres pelo cuidado da vida em condições dignas e sem violência de qualquer espécie, exigindo que nenhuma decisão sobre elas seja tomada sem sua participação e autonomia para decidir sobre seus corpos e territórios.
• Promover a educação comunitária revalorizando, fortalecendo e transmitindo a identidade com uma abordagem interdisciplinar e intercultural de modo que facilite a participação dos povos na tomada de decisões para o bem viver.
• Compreender que a comunicação é um direito e tem o dever e a necessidade de assumir uma descolonização plural, intercultural, com marcos regulatórios democráticos para enfrentar os desafios dos povos e territórios da Pan-Amazônia.
• Considerar a necessidade de ter economias comunitárias transformadoras, enraizadas na confiança, vinculadas ao potencial das pessoas e seus conhecimentos comunitários. Para isso, propomos desenvolver um mapa de experiências de economias transformadoras na região Pan-Amazônica.
COMITÊ NACIONAL (C.N.) PERU DO FÓRUM SOCIAL PANAMAZÔNICO (FOSPA)
GOVERNO TERRITORIAL AUTÔNOMO DA NAÇÃO WAMPÍS (GTANW)
CONSELHO PERMANENTE DO POVO AWAJÚN E WAMPIS (CPPAW)
CENTRAL DAS COMUNIDADES NATIVAS DA SELVA CENTRAL (CECONSEC)
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E DEFESA DOS POVOS INDÍGENAS DA REGIÃO DE SAN MARTÍN (CODEPISAM)
FEDERAÇÃO DE MULHERES INDÍGENAS KUKAMA KUKAMIRIA DO RIO SAMIRIA E MARAÑÓN “HUAYNAKANA KAMATAHUARA KANA”
ASSOCIAÇÃO DE RAÍZES INDÍGENAS DA AMAZÔNIA PERUANA (ARIAP)
FEDERAÇÃO REGIONAL DE MULHERES ASHÁNINKA, NOMATSIGUEGA E KAKINTE (FREMANK)
CENTRAL ASHÁNINKA DO RIO ENE (CARE)
FEDERAÇÃO DAS COMUNIDADES INDÍGENAS DO UCAYALI E TRIBUTÁRIOS (FECONAU)
ASSOCIAÇÃO CIVIL DAS MULHERES NATIVAS DA PROVÍNCIA DE DELORETO (ACIMUNA)
ASSOCIAÇÃO SAN PABLO DE TIPISHCA COCAMA PARA DESENVOLVIMENTO E CONSERVAÇÃO (ACODECOSPAT)
UNIÃO DAS NACIONALIDADES ASHÁNINKA E YANESHA (UNAY)
FEDERAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA KECHUA CHAZUTA (FEPIKECHA)
AWAJUN FEDERAÇÃO REGIONAL INDÍGENA DE ALTO MAYO (FERIAAM)
CENTRAL ÚNICA NACIONAL DE CAMPANHAS DO PERU (CUNARC-P)
PLATAFORMA DE AUTOGOVERNOS SOCIOTERRITORIAIS
REDE REGIONAL AFRODESCENDENTE DE MADRE DE DIOS (REDE AFROMAD)
DEFENSORES DA VIDA E A PACHAMAMA DE CAJAMARCA
COMITÊ DE DEFESA HÍDRICA DE IQUITOS
TABELA DE DIÁLOGO SATIPO
ASSOCIAÇÃO REGIONAL DE PRODUTORES ECOLÓGICOS DA AMAZÔNIA (ARPEAM)
ASSOCIAÇÃO DE EMPREENDEDORAS INDÍGENAS VIRGEM DE FÁTIMA (AMIEVF) DO AMAZONAS
ASSOCIAÇÃO DE CLUBE DE MÃES DE EMPREENDEDORES DA AGRO BIODIVERSIDADE DE LAMUD – AMAZONAS
ASSOCIAÇÃO DE MULHERES EMPREENDEDORAS “WARMI TSINANI”
CONSELHO REGIONAL DE MULHERES DE JUNÍN (CRMJ)
ASSOCIAÇÃO CEPEDA LULAY DE JUNÍN
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO E PAZ AMAZÔNICA (IDPA) DE TARAPOTO
VICARIATO DE JAEN
COMITÊ DE COMBATE À POBREZA (MCLP) DE LORETO
INUNDAÇÕES NUNCA MAIS EM PIURA
FRENTE DE DEFESA DE ÁGUA DA BACIA DE LURÍN (FEDAC)
COMITÊ REGIONAL DE MEIO AMBIENTE (CAZ) DE JOSÉ GÁLVEZ DE VILLA MARÍA DEL TRIUNFO
COORDENAÇÃO DO DISTRITO DE VILLA MARÍA DEL TRIUNFO
REDES AMBIENTAIS DE VILLA EL SALVADOR (REDAVES)
AREIA E ESTEIRAS
COLETIVO DE MULHERES QUE TRABALHAM CONTRA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS (COMUTRAFECC) DE SAN JUAN DE MIRAFLORES
REDE NACIONAL PARA A PROTEÇÃO DOS RIOS NO PERU (RIOS LIMPOS E LIVRES)
GRUPO DE PROMOÇÃO DE MULHERES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS (GIMCC)
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PRODUTORES ECOLÓGICOS – ANPE PERU
MOVIMENTO CIDADÃO CONTRA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS (MOCICC)
COLETIVO PERUANO DE EDUCAÇÃO POPULAR (CEAAL PERU)
COMISSÃO INTEGRAL DE ECOLOGIA RESSUSCITA PERU NOW (RPA)
FEDERAÇÃO DAS COMUNIDADES CAMPONESAS
CENTRO AMAZÔNICO DE ANTROPOLOGIA E APLICAÇÃO PRÁTICA (CAAAP)
FÓRUM DE SOLIDARIEDADE DO PERU (FSP)
AÇÃO DE SOLIDARIEDADE PARA O DESENVOLVIMENTO – COOPERAÇÃO
PROMOÇÃO DA VIDA-FOVIDA
INSTITUTO DO BEM COMUM (IBC)
INSTITUTO BARTOLOMÉ DE LAS CASAS (IBC)
COMISSÃO EPISCOPAL DE AÇÃO SOCIAL (CEAS)
PROJETO DE TECNOLOGIA AGRÍCOLA ANDINA – PRATEC
INICIATIVA INTER-RELIGIOSA PARA FLORESTA TROPICAL (IRI) PERU
FUNDO SOCIOAMBIENTAL DO PERU (FSP)
GRUPO DE FORMAÇÃO E INTERVENÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (GRUFIDES)
ESCOLA PARA DESENVOLVIMENTO
VIDA DE CONEXÃO DE RÁDIO
CENTRO DE MULHERES PERUANAS TRISTAN FLORA
MOVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHADORES FILHOS DE TRABALHADORES CRISTÃOS (MANTHOC)
MOVIMENTO LAUDATE SI’
RELIGIÕES PARA A PAZ
ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE EDUCAÇÃO RADIOFONE (ALER)
REDE LATINO-AMERICANA DE JUSTIÇA ECONÔMICA E SOCIAL (LATINDADD)
RIOS INTERNACIONAIS (RI)
SOCIEDADE DE INVESTIGAÇÃO E AÇÃO SOCIAL E ECONÔMICA (CIASE) DA COLÔMBIA
ARTICULAÇÃO DE MULHERES BRASILEIRAS (AMB)
SUPORTE JURÍDICO AO POVO AYOREO DO PARAGUAI
FLACSO EQUADOR
Eles querem acabar com a Amazônia e
nós mulheres não vamos deixar!
Em defesa da vida, rumo ao Bem Viver e à Vida Plena!
Estrada para Belén do Pará 2022,
Capital da resistência, trincheira dos povos
Lima, 27 de maio de 2022